Um dos principais jogadores da seleção brasileira está preso investigado por estupro. Não vou condenar ninguém antes da hora, mas ter mais um brasileiro famoso envolvido em um caso de violência sexual contra uma mulher é apenas um retrato das tantas violências que são realidade por aqui. Mas qual a relação de um caso de tamanha repercussão com o ambiente corporativo? Explico.
No ambiente corporativo, também acontecem microviolências contra mulheres –isso quando não é palco de violências maiores e mais graves. A gente pode começar da base, onde, em muitos espaços, mulheres no mesmo cargo exercendo a mesma função ainda ganham menos que os pares homens. Podemos passar por casos de silenciamento e descrença na palavra das lideranças femininas e chegar até os casos gravíssimos de assédio sexual. Não é incomum.
Segundo dados compilados pelo Tribunal Superior do Trabalho em parceria com o portal UOL, mais de 26 mil pessoas entraram na Justiça por assédio sexual no ambiente de trabalho entre janeiro de 2015 e janeiro de 2021. Em 2020, a média foi de 204 processos abertos por mês; quase sete por dia. Outro levantamento, realizado pelo LinkedIn em parceria com o portal Think Eva, mostra que 47% das brasileiras já foram vítimas dessa violência no ambiente de trabalho. De nada adianta se revoltar com casos de repercussão de violência contra a mulher se, dentro da sua empresa, não se olha para os que nela existem. Um ambiente de trabalho saudável e produtivo é um espaço onde todas as pessoas se sintam confortáveis, onde todas tenham oportunidades e onde gênero (e qualquer outra diferença) não interfira no dia a dia desse profissional.
Um bom líder não fecha os olhos para as microviolências que acontecem no dia a dia. Ele se coloca à disposição, se mostra um líder aberto a ouvir qualquer tipo de reclamação ou denúncia. Uma empresa de sucesso tem um setor de compliance de sucesso, que ouve, acolhe, investiga e, se houver necessidade, pune. O levantamento do LinkedIn em parceria com o Think Eva mostrou, ainda, que a maior parte das mulheres vítimas de assédio em corporações não denuncia: 78,4% delas não o fazem por acreditarem na impunidade. Metade delas prefere dividir o ocorrido apenas com pessoas próximas; 33% não fazem nada e 14,7% optam pela demissão.
Um bom líder se mantém sempre atento. Não feche os olhos para o que não vai mais ser silenciado; crie espaços onde esses temas possam ser discutidos. Desta forma, não melhoraremos somente o ambiente de trabalho, mas toda uma sociedade.
Fundadora da CreScer Group, consultoria renomada no desenvolvimento de lideranças, esposa há 31 anos e mãe da adorável Talyta. Atua há mais de 30 anos no mercado em posições estratégicas nas áreas de gestão de pessoas. É psicóloga, com extensão em psicodrama e assessment pela TTI Sucess Insights e pós-graduada em marketing, com MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela FGV. Coach e Mentora com certificação internacional pelo Integrated Coaching Institute, pelo Center for Advanced Coaching e Erlich Organizações, e em metodologias ágeis pela MindMaster. Autora do livro “Um RH Visto de Cima – O que a Alta Administração Espera que Você Saiba para Fazer a Diferença” e coautora de outros quatro livros significativos na área. Eleita profissional do ano pela Associação Brasileira de Liderança nos anos de 2018, 2021 e 2023, combinando assim, experiência, educação e paixão para impactar o campo da liderança empresarial.